Thursday, September 21, 2006

Meu Poeta do coração

Nasceu no Rio de Janeiro em uma família amante das letras e da música, e seguiu as duas vocações. Ainda no colégio, começou a compor com os amigos Paulo e Haroldo Tapajós, e juntos tocavam em festinhas. Nos anos 30 formou-se em Direito e fez letra para dez músicas que foram gravadas, nove delas parcerias com os irmãos Tapajós. Em 1933 publicou seu primeiro livro de poemas, "O Caminho para a Distância". Amigo de Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de Andrade, publicou outros livros de poemas nessa década. Passou algum tempo estudando inglês na Universidade de Oxford e, de volta ao Brasil em 1941, foi crítico cinematográfico do jornal "A Manhã". Dois anos depois foi aprovado para o Itamaraty e seguiu a carreira diplomática. Como diplomata morou nos Estados Unidos, França, Uruguai. Em 1954 inicia-se como teatrólogo, escrevendo a peça "Orfeu da Conceição", que mais tarde virou o filme "Orfeu do Carnaval", dirigido pelo francês Marcel Camus. Sua carreira como músico é impulsionada a partir das décadas de 50 e 60, quando conhece alguns de seus parceiros, como Tom Jobim, Antônio Maria, Edu Lobo, Carlos Lyra, Baden Powell. Em 1958 Elizeth Cardoso lança "Canção do Amor Demais", com diversas parcerias Tom/ Vinicius: "Luciana", "Estrada Branca", "Chega de Saudade". O primeiro grande show em que se apresenta, na boate Au Bon Gourmet, em 1962, ao lado Tom Jobim e João Gilberto, o liga permanentemente ao mundo da música popular e aos palcos. Seu elo com a bossa nova é muito importante. Fez letras para algumas das músicas mais importantes do movimento, como "Garota de Ipanema", "Chega de Saudade", "Eu Sei que Vou Te Amar", "Amor em Paz", "Insensatez", "Se Todos Fosse Iguais a Você" (todas com Tom Jobim), "Minha Namorada", "Coisa Mais Linda", "Você e Eu" (com Carlos Lyra). É também em 1962 que conhece Baden Powell, com quem comporia músicas de temática afastada da bossa nova, como os afro-sambas ("Canto de Ossanha", "Canto de Xangô", "Samba de Oxóssi") e outros sambas ("Samba em Prelúdio", "Samba da Bênção", "Formosa", "Apelo", "Berimbau"). Em 1965, num show na boate Zum Zum, lançou o Quarteto em Cy, de quem se tornou padrinho. No mesmo ano, "Arrastão", sua parceria com Edu Lobo, defendida por Elis Regina, é a vencedora do Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em São Paulo. O segundo lugar também é de Vinicius: ""Valsa do Amor que Não Vem", parceria com Baden interpretada por Elizeth. Após a promulgação do AI-5, em 1968, Vinicius é aposentado compulsoriamente da carreira diplomática. A partir de então passa a se dedicar à vida artística. Faz shows em Portugal, Argentina, Uruguai, acompanhado de Nara Leão, Maria Creuza, Toquinho, Oscar Castro Neves, Quarteto em Cy, Baden Powell, Chico Buarque. Nos anos 70 incrementa a parceria com Toquinho: "Tarde em Itapuã", "Regra Três", "Maria Vai com as Outras", "A Tonga da Mironga do Kabuletê" são algumas músicas da dupla. Muitos discos foram lançados na década de 70 com composições ou interpretações suas. Um dos mais importantes é "Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha", gravado ao vivo no Canecão (Rio), em um espetáculo que ficou quase um ano em cartaz no Rio e seguiu para outras cidades da América do Sul e Europa. Apesar do sucesso com a música popular, Vinicius não abandonou a poesia, tendo inclusive gravado discos em que recita suas obras. Depois de sua morte, em 1980, diversos shows-tributo foram apresentados, ao longo dos anos, assim como coletâneas e biografias.

Poesia

Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo)

Monday, September 18, 2006

Antropologia e Imagem

O fazer etnográfico põe em jogo representações do “eu” e do “outro”. A verdade surge no confronto de pontos de vista. Existe relação entre quem vê e quem está sendo visto, de quem está falando e sobre quem está sendo dito, tanto na etnografia escrita quanto no filme etnográfico. Isto é, no modelo “dialógico”, a relação entre vários pontos de vista, é o que leva à verdade.
Segundo James Clifford, nas décadas de 1920 e 1930, a importância conferida ao trabalho de campo constituiu uma antropologia fundamentada na experiência, na observação participante. Na década de 1950, o contexto de descolonização dos países africanos colocava novos problemas, tornando necessário “conceber a etnografia não como a experiência e a interpretação de uma outra realidade circunscrita , mas sim como uma negociação construtiva envolvendo pelo menos dois , e muitas vezes mais, sujeitos conscientes e politicamente significativos” (Clifford, J. 1998) .
Na obra do cineasta Eduardo Coutinho, nos deparamos com a imagem de se ir à campo sem uma idéia pré-concebida. Em seus filmes, não há a intenção de defender uma tese, mas construir narrativas a partir do encontro da equipe com os personagens, onde inclusive, esse encontro torna-se parte da obra. Já no filme “Vira mundo”, de Geraldo Sarno, o diretor vai a campo com uma idéia definida. Escolhe os personagens que melhor encaram os “tipos sociais” dos quais ele quer tratar. Produz um filme fechado que nos remete a postura autoritária do “modelo sociológico” da década de 60.
Em sua filmografia Jean Rouch, que vai encontrar no cinema um jeito de fazer uma “antropologia compartilhada”. Para a descoberta da verdade através do ponto de vista dos participantes e de Rouch.
Raridade na mídia contemporânea, porém cada vez mais presente nas etnografias modernas, a tentativa de descrever com maior nitidez a imagem do ser retratado pelo ponto de vista dele, encontra espaço em filmes etnográficos como os de Eduardo Coutinho.
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