Saturday, March 24, 2007

Lapa contemporânea e sua musicalidade















Meu primeiro contato com a Lapa foi através de um pequeno grupo de alunos do curso de filosofia do IFCS, contato esse devido ao meu ingresso neste curso no ano de 2000, desde então passei a freqüentar a Lapa e seus arredores, neste mesmo ano dei início ao curso básico de música na Escola de Música Villa-Lobos, estudando teoria, história da música, estética musical, canto e coral e prática instrumental com estudo do violão clássico.
Nessa época não conhecia a Lapa e tudo era novidade, lembro-me que me espantava com tamanha a diversidade cultural que via principalmente na rua Joaquim Silva, os arcos imponentes e a vida boêmia me fascinaram. Freqüentávamos o antigo bar do Seu Cláudio, reduto de sambistas, jongueiros e populares dos mais diversificados locais do Rio de Janeiro, neste bar eram comuns reuniões e confraternizações tanto de universitários e intelectuais quanto de passantes e populares locais.
Seu Cláudio era simpático um senhor negro hoje já falecido proprietário do bar que se localizava quase de fronte a escadaria azulejada da Lapa, mais especificadamente na Rua a Joaquim Silva, a escadaria do Selaron um artista popular. Foi esse ambiente que me proporcionou a ter contato direto com um ambiente musical rico e diversificado, conhecendo músicos populares e eruditos enriquecendo muito minha cultura musical e meu conhecimento no meio musical.
Meus primeiros contatos com o campo “A Lapa” foram nas noites de quinta feira, lembro-me que ainda era uma Lapa esvaziada e era possível andar tranquilamente sem uma multidão de pessoas pelas ruas. A oferta de casas e bares ainda era bastante reduzida por conta disso o bar do seu Cláudio era o eleito para o encontro dos alunos do IFCS e outros alunos.
Envolvido com a Música decidi trancar o curso de filosofia no IFCS e me matricular no curso superior de produção musical com habilitação em produção fonográfica na Universidade Estácio de Sá, movido pelo desejo de ser um produtor musical e viver do que eu mais gostava na vida a música. A experiência musical transformou a minha maneira de valorar e interpretar a vida passei a participar de diversas rodas de samba e passei a fazer parte do bloco carnavalesco do Museu da Imagem e do Som na praça XV. Circulava por Santa Tereza bairro boêmio e reduto de artistas cariocas. A cultura musical sempre esteve fortemente ligada a minha vida, em 2002 me formei no curso básico de música na Escola de Música Villa-Lobos e dei continuidade ao estudo de Produção musical me formando em 2003 com título de Tecnólogo superior.
A forma de música feita na Lapa em 2000, 2001, 2002 passava por uma transformação significativa e perceptível a qualquer pessoa que entendesse um pouco de música era capaz de entender que as formas mais populares feitas nos botecos e nas ruas estavam começando a desaparecer aos poucos dando lugar a novas casas de espetáculos e uma diversão mais privada e menos pública. Era comum rodas de samba com os músicos sentados no chão e de maneira bem descompromissada um encontro de rua. Em 2003 decidi retomar meus estudos superiores no IFCS, todavia por influencia de dois amigos Antropólogos: Guilherme Lery e Rodrigo Folis ambos formados na Pós-graduação do IFCS mudei meu curso para ciências sociais.
Desde então venho me debruçando sobre questões Antropológicas e pensando como aproximar a música da Antropologia no contexto contemporâneo.
Surgiram diversas novas casas de espetáculo, casas de show na Lapa e nos seus arredores, essa explosão de “novos lugares” e a reurbanização da Rua do Lavradio e a revitalização do centro tem mudado a configuração musical no Rio de Janeiro, é comum encontrarmos jovens tocando chorinho, uma música que requer muita habilidade e estudo do músico que a executa, diversos novos grupos surgiram nesse movimento. O que antes era um público bem mais popular e espontâneo deu espaço a um público altamente exigente e a músicos cada vez mais profissionalizados, devido a essas e outras transformações surgiram diversas questões de abordagem antropológica, urbana e musical, com olhar curioso e disposto a tentar compreender as representações e as resignificações da música popular contemporânea na lapa a presente pesquisa faz um trabalho comparativo de dois espaços específicos de Samba. O primeiro espaço que visitei chama-se Clube dos democráticos uma casa fechada e não gratuita e o segundo espaço é um complexo de botecos chamado Beco do rato que é aberto e gratuito.
Fundado em 19 de janeiro de 1867, o Clube dos Democráticos é a mais antiga sociedade carnavalesca do Brasil e uma das poucas ainda em atividade (perto dele, o Bola Preta é uma criança, nascida "apenas" em 1918:-). Pois sua bela sede na Lapa – o Castelo dos Democráticos, tombado pelo IPHAN em 1987, está voltando aos tempos de glória. O espaço tem sido arrendado por músicos da nova geração do samba e do choro que promovem animadas noitadas freqüentadas por um público jovem.
As quintas são embaladas pelo som do grupo Anjos da Lua. O Anjos da Lua, formado por Gallotti (cavaquinho e voz), Rubinho Jacobina (violão e voz), Mariana Bernardes (cavaquinho e voz), Pedro Hollanda (violão e voz), Sérgio Krakoswski (pandeiro) e Sandrinho (tan-tan e voz),
O Anjos da Lua, além da formação com cantores e instrumentistas já queridos e consagrados na Lapa, é talvez um dos grupos com repertório de samba mais variado. Seus integrantes procuram aqueles sambas do fundo do baú que, graças a eles, logo viram sucesso nas rodas da cidade. Eles foram os primeiros a arrendar o espaço para shows.
As sextas a programação e variada e aos sábados quem comanda é o grupo Orquestra Republicana com Eduardo Gallotti (voz e cavaquinho), Mariana Bernardes (voz e cavaquinho) e Pedro Holanda (voz e violão); Samuel DeOiveira (sax) e Sérgio Krakowswki (pandeiro e voz), músicos do Tira Poeira; Alfredo Del Penho (voz e violão) da Pequena Orquestra de Mafuás; João Hermeto (bateria e percussão) que toca com Nicolas Krassic; Miro do Surdo (surdo); Fernado (trombone), Joana Queiroz (clarineta) da Orquestra Itiberê e Marcelo Bernardes (sax, flauta e arranjos) que é músico do Chico Buarque e dos grupos Choro na Feira e Garrafieira, o maestro da Republicana. Nos intervalos os Djs Cafú e Siqueira tocam MPB, Samba, Choro e Sambalanço.
O Beco do Rato Localiza-se na Rua Morais e Vale entre a Avenida Severo e a Rua da Lapa. O beco do rato apresenta a cada dia entre quinta e domingo um evento cultural, como rodas de samba, choro e um cineclube que funciona, principalmente, todas as quintas-feiras.
O beco do rato é marcado por músicos anônimos ou grupos com menor reconhecimento do público. Uma menor profissionalização é exigida para apresentação neste espaço de socialização, ao contrário do Clube dos Democráticos onde os músicos possuem uma performance mais profissional e sua interação com o público se quando os músicos pisam no palco, o público as vezes eufórico grita o nome dos músicos, no Beco do Rato não existe palco os músicos são menos conhecidos e sua performance está diretamente ligada se a apresentação empolga o público ou não, enquanto que no Clube dos democráticos há uma aparato todo pré arrumado para o espetáculo como iluminação, sonorização profissional, assistentes de palco, fumaça, todo esse aparato da um ar de profissionalismo e espetáculo.
O Público também é bem delimitado no Clube dos democráticos com um ar mais intelectualizado e heterogêneo é visível que é um público culto e exigente formado pelas camadas médias cariocas. Enquanto que no Beco do rato o público é mais heterogêneo e diversificado, tendo em sua maioria pessoas que saem do trabalho, pessoas de classes mais populares que vão descontrair, há também um número significativo de estudantes, todavia não é maioria hegemônica, o Beco do Rato possui um público mais eclético.
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